Vou fazer uma série de posts sobre como foi a inserção do meu DIU de cobre. Claro que tem milhares de outros na internet, mas como cada perspectiva é única, talvez possa ajudar alguém. Talvez não, também. Eu que quis contar.
O primeiro post é sobre o meu contexto, o que me levou a cogitar essa possibilidade. Depois, vou contar como foi a minha tentativa pelo convênio. Então, como foi agendar o procedimento pelo SUS. Também como foi o procedimento em si e, finalmente, o pós procedimento.
Deu cinco posts, então vai ser uma semana divertida.
Busto de uma mulher de perfil dentro de um círculo em formato de dobradura de papel com as cores cinza, azul e laranja. Ela parece serena e profissional, com o cabelo preso e um terninho.
Contexto Aos 17 anos eu soube que não poderia engravidar. Digo, eu sou fértil, mas se eu engravidasse correria um grande risco de ter trombose graças à síndrome de Klippel Trenaunay. Como os anticoncepcionais hormonais imitam a gravidez, eu também não poderia tomar.
Eu não sei porque ninguém me ofereceu um DIU de cobre aquela época. Vinte anos atrás existia um mito que só podia usar DIU quem já tinha ficado grávida? Uma adolescente vai atrás de contraceptivos e encontra um delicioso "você não pode engravidar, mas é fértil, e eu não posso te dar nada para você evitar. Abraço, tudo de bom". Nunca entendi isso.
De lá até os 32 anos confiei na camisinha e deu certo, até o dia que eu não usei.
Não gosto de falar que minha gravidez foi complicada, porque não foi: eu não tive pressão alta nem diabetes, não teve nenhuma intercorrência. Mas foi muito penoso. Vomitei até o final da gravidez e tomei anticoagulante (uma caixa agora está em torno de mil reais para um mês), que são injeções na barriga. Fora todos os outros desconfortos da gravidez. Eu definitivamente não quero passar por isso de novo.
“Ah toda gravidez é única” — verdade, mas não quero arriscar. Não nasci para ser mãe de dois, sabe? Eu mal consigo dar conta de um. Meu filho tem três anos e eu ainda não durmo a noite inteira (tô quase, mas ainda não). Eu ainda amamento e troco fraldas. Só de pensar em outro bebê pra cuidar me dá vontade de desmaiar. Fora a dinâmica familiar de irmãos. Eu não quero lidar com isso.
Acho que no meu caso uma ligadura de trompas seria o ideal, mas eu tenho uma coisa com cirurgias (medo, o nome da coisa). Já operei o fêmur uma vez, o tornozelo duas. Não gosto de cirurgias. E acho um despautério eu ter gestado, parido, amamentando por três anos para passar por mais um procedimento.
Eu não tenho cólicas menstruais e meu fluxo é mais intenso só no segundo dia. O DIU de cobre dura 10 anos, e estou com quase 36. Vou trocar com 46, 56 e pronto, tô na menopausa. Não tem hormônios e a eficácia é de 99%. Achei a alternativa mais segura e simples.
Ainda assim, e mesmo sendo uma privilegiada feminista de classe média, demorei para efetivamente cogitar a ideia. Fiquei com medo da dor, talvez, ou duvidei da eficácia do método. Não é muito lógico porque é uma construção cultural. Algumas pessoas insistem que o DIU é abortivo, mesmo que não seja: o cobre neutraliza os espermatozoides e impede que um óvulo se fixe na parede uterina.
(pensei bastante nisso esses dias: no nosso país, é contra a lei abortar, correto? Pessoas vão presas por isso. Como que nesse mesmo país, que isso é contra a lei, o próprio SUS ia oferecer um tratamento “abortivo” gratuitamente? Não faz o menor sentido.)
Acho que tudo que traz uma independência sexual para a mulher acaba sendo mal visto pela sociedade machista patriarcal que estamos inseridos. E cabe um pouco a nós desconstruir a imagem que vem automaticamente na nossa cabeça sobre as coisas.
Amanhã: como foi a tentativa de inserir o DIU pelo convênio.