Aos 32 me senti uma adolescente com aquele pacotinho nos braços.
Eu queria muito celebrar hoje com foco no meu filho, não em mim. Nos dois primeiros aniversários dele, principalmente o primeiro, o meu foco estava em mim. Em como eu sobrevivi à gravidez e 40 semanas vomitando, ao parto natural e suas 3 horas gritando de dor (e dois dias de contração), aos primeiros 20 dias de amamentação, ao puerpério, à introdução alimentar, ao caos.
Naquela época, eu lembro de olhar pra ele e ver só uma batatinha sem alma. Eu achava estranho. Era como se não tivesse baixado o sistema operacional ainda.
Agora ele está falando e isso trouxe toda uma nova camada de menino que a gente ainda não conhecia e que está sendo criada bem na frente dos nossos olhos. Um menino esperto, observador, que gosta de brincar e de cozinhar. É uma delícia sair pra passear com ele, seja no parquinho ou no shopping.
Nas outras redes sociais eu celebrei ele. Em casa, na escola. Mas aqui nesse canto da internet eu me sinto mais compelida a falar de mim. Afinal, ele acaba de aprender a falar, mas ainda não sabe escrever, função que me cabe. E eu não posso escrever por ele.
A cada dia, inclusive, eu só posso fazer menos e menos por ele — o que me dá uma grande sensação de alívio e dever cumprido de certa forma. Ainda tem muito para fazer, então não me sinto sem propósito. Os 3 anos são um marco bacana para o ego da mãe porque ainda é uma criança dependente, mas não é mais um bebê super dependente.
Sobre isso de ego, é muito difícil. Eu constantemente me sinto fazendo tudo errado e me lembrando que não tem certo pra fazer. Minha mãe sempre diz que no tempo dela não tinha informação e agora temos a internet, mas separar o joio do trigo é exaustivo e pode até ser perigoso.
Eu tenho plena consciência que quero curar no meu filho traumas que ele não tem, mas que eu tenho. E que isso pode ser muito prejudicial pra ele. Pessoal deve me ver nas redes e achar que é fácil ser mãe, que eu faço bem. Mas eu vivo em uma constante corda-bamba de “eu tô sendo muito mole?”, “eu devia ser mais rígida”, “coitado, deixa o menino”, “mas eu preciso mesmo cobrar isso dele?”.
Algumas pessoas me dizem que sim, mas na verdade não sei se sou “boa mãe”. Na verdade, nem gosto tanto assim de ser mãe. Gosto de trabalhar (!), de me sentir inteligente, de fazer uns projetos paralelos, uns hobbies. Gosto é de deitar na rede e tomar cerveja. Cuidar de criança com febre e assistir uma quantidade não saudável de Patrulha Canina toda torta no sofá enquanto tento fazer uma planilha não é minha ideia de diversão.
Só tento respeitar minha criança como um ser humano. Entender os sentimentos dele. Explicar que, mesmo sem querer, ele ainda precisa tomar banho e ir pra escola. Eu acho que eu nunca tive ninguém que dissesse “Você está triste/não quer? Ah, eu entendo. Eu também não gosto muito. É legal ficar brincando né? Mas é importante a gente fazer isso”. Minha mãe dizia apenas “Uai! Tem que fazer!” e esse “tem que” eu tenho um ranço, um ódio. Não “tem que” nada. Que inferno. (É assim que tento curar traumas que ele não tem, mas eu tenho. Ironicamente, isso não me cura também.)
(Talvez ela tenha tentado me explicar e eu não me lembro mais. Chega uma hora que a gente repete tanta coisa todo dia que realmente, satura. Não quero julgar minha mãe nesse texto; mas é difícil não comparar nós duas, porque é a referência que eu tenho).
É muito difícil pra mim saber qual é essa tal linha do meio. Eu não sou uma pessoa de linha do meio, eu sou ✨ intensa ✨. Eu me sinto arrumando um avião em pleno vôo: enquanto cuido de um ser humano novo, mas único, também tento me curar de um trauma geracional que acabei de descobrir que eu tenho, fazer algumas coisas diferentes mas não tudo, virar uma outra pessoa que eu não sou pra ser melhor pra ele mas seguir fiel a mim, a quem eu sou, mas sem ser doida, respeitando mas com limites para não criar um monstro.
Frequentemente é impossível, eu fico saturada com tanta auto-cobrança e pifo.
Talvez… não seja a maternidade que eu não gosto. Talvez seja o fato que a maternidade joga na minha cara, mais do que qualquer outra coisa, que a perfeição que eu idealizo em tudo que eu faço é inatingível e que tem muita coisa fora do meu controle, por mais que eu queira me responsabilizar por elas. E isso que me frustra.
A parte mais difícil de ser mãe não é o meu filho, sou eu mesma.