Disclaimer: Eu pensei bastante se eu trazia ou não discussões de Produto pra cá; é um blog pessoal, não quero misturar as coisas, etc. Tem um blog tão bom, o Tech and Tea, cuja autora consegue misturar tão bem a vida e a maternidade dela com o mundo de Produto. Mas eu não sou assim, as coisas aqui são separadas, e eu não sei se vou continuar escrevendo de Produto aqui. Vou continuar escrevendo sobre minha vida pessoal com certeza. Então não se inscreva se você espera conteúdos frequentes sobre Produto, porque eu não estou prometendo nada. Vai me seguir no Linkedin. Só não vou postar lá porque não vou dar conta dos feedbacks e porque quero espaço pra falar muito.
Uma coisa sobre o mundo de Produto que me irrita um pouco é que, como várias outras disciplinas da tecnologia, é que um homem branco fala uma besteira em um podcast e as pessoas levam isso a sério. Nenhuma novidade aqui, tivemos várias personalidades durante todos esses anos — essa semana mesmo vi um vídeo maravilhoso do Steve Jobs dando palestra que é uma aula de Produto em si. Mas enfim. Tenho ranços e heróis, como qualquer outra área.
Alguém, em algum momento, disse que "o Product Ops flopou" [1]. Primeiro explicando o verbo, flopar vem de flop, e significa que um evento não teve sucesso, que ninguém participou. E Product Ops é uma disciplina de uns 2, 3 anos, que ajuda os times de Produto, CS e Engenharia a trabalhar melhor juntos com o uso de dados, processos e automações.
Eu sou uma Product Ops bem apaixonada. Então uma frase dessa me deixa fisicamente irritada. (a frase foi feita pra causar esse efeito - mesmo pesquisando, não achei isso em mais lugar nenhum além do podcast cujo tema nem sequer é product ops).
Bem o próprio mercado pra Product Managers não está lá muito bom. Conversas na comunidade relatam a dificuldade de achar vagas. As vagas pedindo mais e mais, pagando menos - como se nós tivéssemos perdido conhecimento ou diminuído nosso custo de vida. O pessoal do AirBNB disse que não usa mais Product Managers e o povo ficou “oooohhhh”. Daí se não tem Product Managers, não tem Product Ops.
Eu só acho que a gente traz essas discussões de um modelo internacional e tenta encaixar no nosso modelo nacional, mas a nossa realidade é profundamente diferente. Do mesmo jeito que tentamos trazer a ideia de squads do Spotify e a febre do ágil tendo empresas de tecnologia, continuamos fazendo processos de cascata e go-horse, muitas vezes fritando pastel.
Porque uma barraca de pastel continua entregando pastel. Ela não vai entregar outra coisa. O que funciona nos Estados Unidos é, sei lá, um token para os pedidos; no Brasil, o berro faz o pastel sair. Acho que a gente devia honrar mais nossa cultura e entender nossos contextos. (o que não é tratar ninguém aos berros, óbvio; mas ser criativo, inovador, enfim: temos nossa cultura e nossas diferenças, não é porque um americano ou europeu fez que é bom pro resto do mundo).
Acho que a maioria das empresas e startups que trabalhei nos últimos 18 anos (fora agências e jornalismo) não tinha um PM. O “PM” na verdade era o CTO, que tinha background de tecnologia. Então a gente tinha um programa com features, não necessariamente um produto. A diferença primordial é que a gente fazia as coisas, entregava e era isso. Se tem alguém usando, se algum ponteiro mexeu, se resolveu algum problema… é sorte.
Daí você fala “Ahá, não precisa de PM então!”. Bem, não. Até que a empresa foi comprada. E começou a olhar pro mercado e para métricas. E agora só a opinião do CTO não é mais suficiente pra manter esses números. Agora sim, eles têm um problema que a mentalidade de Produto pode ajudar a resolver.
E acho que é isso sabe, uma cultura de Produto, uma mentalidade colaborativa para resolver problemas observando os negócios e fazendo hipóteses e pequenas iterações para validá-las. Ou você tem a cultura de ter uma hipótese, fazer uma alteração e verificar o resultado, ou você tem uma cultura de construir uma feature porque alguém pediu (stakeholder, CTO, cliente). Eu sinto que essa segunda é a maioria das empresas nacionais. A gente pinta ali um Kanban, faz uma Retrospectiva, chama de Ágil e paga as contas no fim do mês. Mas fazer Produto? Hm.
Nada errado com nenhum dos dois modelos. Eu só fico pistola de falar “olha, não faz sentido a gente ter um bote salva-vidas numa barraca de pastel!” como se fosse um barco. Entende?
Baixa a bola gente. A disciplina de Product Ops tem uns 2 anos. Estamos aí provando nosso valor, estudando, melhorando processos, fazendo coisas que as empresas já fazem — só concentramos em uma pessoa/área para que o Product Manager tenha menos desculpas consiga focar onde ele entrega mais valor. Isso onde ele existir. Se não tem Produto, não tem PM, não tem POps.
Não foi o Product Ops que flopou. Foi a cultura de Produto que não pegou.
E agora? Qual é o jeito brasileiro raiz de ganhar dinheiro com um aplicativo digital?